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Lições de superação

  • Publicado: Quinta, 06 de Outubro de 2016, 14h56
  • Última atualização em Quinta, 27 de Outubro de 2016, 01h28

Matheus Cardoso

No dia 21 de setembro comemorou-se o Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes, data criada para estimular a reflexão e divulgar as lutas pela inclusão social.

Para lembrar a data, entrevistamos Lucas Avelar Moreira e Felipe Rigone Lopes, aluno e ex-aluno da Escola de Minas/UFOP, respectivamente. Dois jovens brilhantes e corajosos que contam como enfrentam e superam as dificuldades causadas pelas deficiências das quais são portadores.

 

Lucas Avelar Moreira

Natural de Juiz de Fora MG, Lucas tem 25 anos e é graduando em Engenharia Ambiental na UFOP. É portador da rara e genética Doença de Wilson, que causa baixa quantidade de ceruloplasmina no organismo, provocando acúmulo tóxico de cobre nos tecidos, principalmente no cérebro e fígado. A consequência é a manifestação de sintomas neuropsiquiátricos e de doença hepática, que provocam dificuldade extrema na fala e coordenação motora básica. Apesar do grave problema motor e dificuldade para comunicação, a entrevista foi descontraída, devido ao impecável bom humor do entrevistado.

 

EM- Porque você escolheu a vida republicana?

LAM- Morava na República Monte Sião quando a Doença de Wilson se manifestou e precisei trancar a faculdade, em 2012. A República acabou e, quando voltei, em 2014, conhecia alguns moradores da República Gandaia e mudei para cá.

EM- Como foi a recepção dos seus colegas de sala e dos moradores da República?
LAM- Pensei em morar no alojamento da UFOP, mas quando trouxe minha mudança para a Gandaia, fui recebido com uma festa surpresa pelos meus antigos colegas de sala e moradores da república. A recepção foi tão boa que resolvi batalhar como calouro aqui.

EM- Você sofreu algum tipo de preconceito?

LAM- Praticamente nenhum. Apenas uma ou outra situação desconfortável. Uma história engraçada ocorreu nas primeiras semanas após a minha volta para a UFOP. Eu estava na fila do RU (Restaurante Universitário) e quando fui retirar minha caneca da mochila, uma menina, que estava próxima a mim, falou do nada: “Desculpa moço, estou sem dinheiro”, como se eu fosse pedir esmola. Aí a gente tem que rir né.

EM- Qual o nível de preparação da cidade de Ouro Preto e da Universidade para pessoas com problemas de mobilidade?

LAM- Não tenho reclamação. Um fato engraçado acontece às vezes nos lugares onde entro. As pessoas pensam que sou surdo e tentam pegar o celular da minha mão para falar comigo, quando na verdade elas têm é que ler

o que eu escrevo.

EM- Quando você pretende se formar?

LAM- Você me apertou sem abraçar. Vai demorar um tempo.

EM- Alguma mensagem para as pessoas com dificuldade semelhante à sua e que desejam se formar em uma Universidade?

LAM- Fé em Deus e pé na tábua.

 

Felipe Rigone Lopes

Capixaba da cidade de Linhares, onde atualmente reside, Felipe Rigone Lopes graduou-se em Engenharia de Produção, em 2014. A deficiência visual, em decorrência de uma infecção, não o impediu que se formasse aos 23 anos e até se candidatasse, este ano, a uma cadeira de vereador em sua cidade.

EM- Porque você escolheu o curso de Engenharia de Produção?

FRL - Comecei no curso de Física, mas percebi que faltava algo ligado ao ramo empresarial, à liderança e ao contato com as pessoas. Daí decidi mudar para engenharia de produção.
 EM- Como foi o suporte de amigos e familiares para que você prestasse o vestibular na UFOP?

FRL - Sempre tive todo o apoio necessário para meus estudos. Minha família e amigos, antes e depois de eu entrar na faculdade, me ajudaram estudando comigo, lendo o que eu precisava ler.

EM- Por que você escolheu a vida republicana?

FRL - Morei na Copo Sujo e a escolha por morar em república se deu por algumas razões. Primeiro porque eu precisava de ajuda e, se meus pais alugassem um apartamento e contratassem alguém para cuidar de mim, eu nunca seria independente, apenas iria mudar a dependência para outra pessoa. Depois, a convivência com outras pessoas, com regras de relacionamento, com certa hierarquia nos faz crescer e muito. Faz-nos perceber que conviver é incomodar, e precisamos eticamente, em conjunto, decidir quais serão nossas maneiras de conviver. Foi com certeza absoluta uma das coisas que mais me ensinou a viver, muito mais que a própria faculdade de engenharia.

EM - Como foi a recepção dos seus colegas de república e quais foram as adaptações necessárias para amenizar os empecilhos gerados pela deficiência visual?

FRL - As pessoas me receberam muito bem, até porque sou muito fácil de lidar. Só precisaram ser mais atentos para não deixarem as coisas no meio do caminho dentro de casa, para eu não as derrubar. Nunca precisei de muita adaptação, porque sempre conto com as pessoas.

EM - Quais foram as reações dos professores ao saberem da sua presença na turma?

FRL - Foi muito tranquilo. Todos tiveram receio sobre como eles iriam me ensinar as coisas, o que foi logo superado, porque eu falava que se eles não soubessem me ensinar algo, eu os ensinaria a me ensinar. Foi tudo assim, na convivência e na conversa.

EM - Você sofreu algum tipo de preconceito entre colegas ou professores?

FRL - Dos colegas nunca. No terceiro período, tive que fazer expressão gráfica e o Departamento de Arquitetura inicialmente não me achava apto a aprender. Mas com a ajuda dos professores Jonas Durval e Guilherme Jorge Brigolini Silva conseguimos superar este pequeno conflito.

EM - Como você estudava e fazia as provas?

FRL - Estudava com os amigos e fazia provas orais. E sempre que eu precisei o pessoal do núcleo de educação inclusiva (NEI) me ajudava, e muito, com adaptação do material que eu precisava. Até depois de formado eles já me ajudaram, são excelentes no que fazem.

EM - Qual o nível de preparação da cidade de Ouro Preto para pessoas com deficiência visual?

FRL - Absolutamente nenhum. O que salva é a universidade, que tenta articular junto à prefeitura algumas coisas. Na minha época só tínhamos avanços dentro da universidade mesmo.

EM - Você trabalha atualmente?

FRL - Tenho meu próprio escritório de coaching e desenvolvimento humano. Não tenho nenhuma dificuldade devido à deficiência. Só a crise econômica que dificulta um pouco a vida do empreendedor.

EM - Porque você decidiu se candidatar a vereador?

FRL - Acho que a politica é um dos trabalhos mais lindos que temos na sociedade, e ela define muito de nossa vida. Enquanto pessoas boas continuarem a achar que politica é coisa de ladrão e gente ruim, nunca teremos um país melhor. Decidi me candidatar devido a essa percepção e por ter habilidades e conhecimentos que serão muito úteis na vida política. Também porque minha vida não faz sentido se eu não fizer algo para tornar nossa sociedade melhor. E porque gosto!

EM - O que você teria a dizer a outros deficientes visuais que também buscam seu espaço na sociedade?

FRL - Se relacione! Não existe coisa pior do que o portador de deficiência que, na busca por sua independência, fica sozinho. Somos todos interdependentes! Todos nós dependemos uns dos outros. É impossível viver sozinho, e inclusive é ruim. Lutar pela própria independência é fundamental, sendo deficiente ou não. Mas ter boas relações é essencial!

 

Sobre Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes

A data foi instituída pelo movimento social em Encontro Nacional, em 1982, com todas as entidades nacionais reunidas. A data foi oficializada pela Lei Federal nº 11.133, de 14 de julho de 2005.

No Brasil, segundo o IBGE, 14,5% da população tem algum tipo de deficiência (algo em torno de 24,5 milhões de pessoas). Os direitos dos deficientes estão garantidos na Constituição Federal de 1988 e o Brasil tem uma das legislações mais avançadas sobre os direitos das pessoas com deficiência, das quais destacamos algumas:

 

Lei Federal nº 7.853, de 24/10/1989, dispõe sobre as responsabilidades do poder público nas áreas da educação, saúde, formação profissional, trabalho, recursos humanos, acessibilidade aos espaços públicos, criminalização do preconceito.

Lei Federal nº 8.213, 24/07/1991, dispõe que as empresas com 100 (cem) ou mais empregados devem empregar de 2% a 5% de pessoas com deficiência.

Lei Federal nº 10.098, de 20/12/2000, dispõe sobre acessibilidade nos edifícios públicos ou de uso coletivo, nos edifícios de uso privado, nos veículos de transporte coletivo, nos sistemas de comunicação e sinalização, e ajudas técnicas que contribuam para a autonomia das pessoas com deficiência.

Lei Federal nº 10.436, 24/04/2002, dispõe sobre o reconhecimento da LIBRAS-Língua Brasileira de Sinais para os Surdos.

 

 

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